O conceito de família tradicional parece ultrapassado. O clássico modelo 'pai, mãe e filhos' está a perder cada vez mais terreno para novas formas de organização familiar. |
Esqueça-se a concepção tripartida 'pai, mãe e filhos'. O conceito de família na sociedade portuguesa há muito que deixou de caber no rótulo tradicional para se espraiar em muitos outras formas de organização familiar: desde homossexuais dos dois sexos que têm a seu cargo filhos de anteriores relações, a mãe e pais solteiros, passando por casais que conjugam filhos de anteriores uniões com filhos nascidos no seio da nova relação. Segundo a psicóloga clínica Leonor Santos, a mudança de paradigma começou a dar os primeiros passos entre as décadas de 1970 e 1980. A abertura das mentalidades proporcionada pela Revolução de Abril traduziu-se num número acentuado de divórcios que, por sua vez, deram origem a novas famílias e tipos de união. Aquilo a que o psiquiatra José Gameiro chamou de 'famílias reconstruídas'. A forma como a sociedade olha para as mais recentes formas de organização familiar mistura abertura com desconfiança, principalmente no que toca às mães solteiras e aos casais de homossexuais. Uma das questões mais enfatizadas pelos reticentes prende-se com a efectiva qualidade de vida das crianças e adolescentes que vivem no seio destas famílias. De acordo com Rui Marques, da Confederação Nacional de Associações de Famílias, embora a posição da sociedade relativamente às novas formas de organização familiar deva ser de abertura, tal atitude não deve dar azo à negligência. 'Por algum motivo há cada vez mais crianças com falta de aproveitamento escolar e crianças e adultos a recorrer à ajuda do psicólogo. A sociedade parece andar um pouco perdida, há uma crise da família e desta realidade só as gerações mais novas conhecerão o verdadeiro preço.' Mães e pais ao mesmo tempo Marta, de 33 anos, é mãe de uma menina de quatro anos. Quando casou não imaginava que, volvidos dois anos, voltaria a casa dos pais, agora com uma bebé de meses nos braços. São eles que repartem com Marta as idas ao infantário ou ao pediatra sempre que esta não pode comparecer por motivos profissionais. O pai da bebé nunca demonstrou interesse em estar com a filha mais do que os dias a que tem direito por lei. Ainda assim, a designer reconhece que, comparativamente a outras mães solteiras, o suporte de que dispõe é mais a excepção do que a regra. 'Neste momento vivo para a minha filha', explica, acrescentando que o dinheiro que antigamente era gasto em jantares e idas ao cinema, hoje em dia vai todo para as fraldas e para o infantário, 'que é caríssimo'. O crescimento harmonioso da filha é a sua maior preocupação, daí que tema o rótulo que venha a ser colocado em Inês à entrada para a escola: 'Filha de mãe solteira'. Mais raros em Portugal são os casos de 'pais solteiros': apenas 3% dos pais detêm a custódia completa dos filhos, de acordo com dados da Associação 26-4. Esta entidade dedica-se precisamente a lutar pelo direito dos homens à custódia dos filhos e a divisões de paternidade mais justas. O próprio nome da associação espelha a diferença de direitos que parece distar entre os dois progenitores: 26 é o número médio de dias que um filho de pais separados passa com a mãe, sobrando apenas quatro dias para privar com o pai. Mesmo da ínfima percentagem de pais que detêm a custódia total dos filhos, a maioria são viúvos. Havendo mãe, quase sempre esta é preferida. Amor no mesmo género Clara tinha 17 anos quando contou à mãe que estava apaixonada por uma colega de turma. 'O querer ser aceite' pela sociedade levou a que, mesmo perante o esboço de uma sexualidade diferente, Clara estivesse com os dois homens que viriam a ser pais dos seus filhos. Hoje com 28 anos, Clara vive com os pais, os dois filhos e duas irmãs. Lá em casa sempre se falou de Isabel, sua companheira há dois anos, da mesma forma descontraída como as irmãs falam dos namorados. Os ex-companheiros também nunca lhe colocaram entraves nem lutaram nos tribunais para retirar a Clara a guarda das crianças, mesmo depois de saberem que mantinha uma relação homossexual. A maior discriminação, queixa-se a arquitecta, vem mesmo do Estado e de certas instituições, que tardam a reconhecer a paridade de direitos relativamente aos casais heterossexuais. 'Estou à procura de casa para ir viver com a minha namorada e com os meus filhos e o banco não prevê que eu possa pedir o crédito à habitação em conjunto com ela', queixa-se. Fabíola Cardoso, presidente do Clube Safo, associação de defesa dos direitos das lésbicas, questiona o que entende a sociedade como 'normal' quando utiliza a expressão para dizer que homossexuais e lésbicas não se enquadram nela. 'É um estereótipo que de tão irrealista quase não contempla nenhum caso. Muitas famílias heterossexuais também não correspondem a esse estereótipo de 'pai, mãe e filhos', afirmou ao EDUCARE.PT a presidente do Clube Safo. A mesma fonte não rejeita porém que existam diferenças, 'assim como não é a mesma coisa ser filho de um casal de médicos que vive em Faro ou de um casal de agricultores que viva numa aldeia remota de Trás-os-Montes, ou viver com pais que se amam ou que se odeiam'. No entanto, 'uma criança educada por um casal homossexual desenvolve-se cognitivamente e tem uma qualidade de vida e um crescimento tão harmonioso como uma criança criada por heterossexuais. Todos os estudos internacionais apontam nesse sentido', defendeu. O mesmo se passa em relação ao factor discriminação. 'Se uma criança pode ser discriminada por ter uma mãe ou pai homossexual, a colega do lado também pode ser discriminada porque é gorda'. De acordo com a presidente da associação, ainda assim e perante o concreto, é mais difícil que as pessoas persistam na discriminação e na ofensa. 'Na maioria das vezes, o que gera a discriminação são o medo e a ignorância. Quem nunca teve contacto com uma situação destas julga-a com estranheza. Depois percebem que um pai ou uma mãe homossexual se preocupam tanto com o filho como qualquer outro pai.' Apesar de ser um processo que se avizinha moroso, Fabíola Cardoso não tem dúvidas de que, dentro de 20 anos, será mais fácil aos homossexuais serem aceites pela sociedade. Da mesma forma que há 20 anos era muito complicado ser filho de pais divorciados, uma situação que entretanto se banalizou. De acordo com Leonor Santos, é importante para o desenvolvimento de qualquer criança a presença das figuras materna e paterna, ressalvando porém que 'o mais importante é que os afectos existam', independentemente do tipo de casal que se venha a formar. Na óptica da psicoterapeuta, a homossexualidade é ainda encarada por muita gente como uma patologia e não como uma opção sexual. 'Hoje em dia fala-se mais de homossexualidade mas daí a aceitar-se vai uma grande distância. Estamos a falar de mentalidades e estas demoram muito a mudar.' Os meus, os teus e os nossos Na casa de Maria João vivem dois adultos, duas adolescentes e dois bebés. Uma casa cheia, portanto. Apenas os dois filhos mais pequenos são fruto da relação com o actual companheiro. Quando conheceu Joaquim, a professora já tinha uma menina, hoje com 13 anos. O marido, por seu lado, tinha a seu cargo a guarda de uma filha, da mesma idade, fruto do primeiro casamento. Durante os cinco anos em que viveu em exclusivo para a filha, Maria João recorda que sentiu algumas vezes o peso da discriminação. 'Senti mais no ambiente profissional e quase sempre por parte dos homens, por não ter o suporte social do marido.' A entrada do actual companheiro no seu universo deu-se de forma prudente. 'No início senti que a minha filha tinha uns certos ciúmes. Perguntava-me se eu gostava mais dele do que dela mas com o tempo essa desconfiança passou.' De acordo com a psicóloga Leonor Santos, é normal que em situações como esta os primeiros contactos não sejam pacíficos. 'As crianças reservam sempre a secreta esperança de voltarem a ver os pais juntos. Quando surge uma quarta pessoa, é normal que a primeira reacção não seja positiva.' O falhanço do primeiro casamento leva Maria João a aconselhar a filha a experimentar uma união de facto antes de oficializar uma relação. 'É melhor experimentar primeiro a vivência debaixo do mesmo tecto e dar algum tempo para ver se resulta.' Com duas raparigas a entrar na adolescência e dois rapazes em plena infância, não é fácil ao casal organizar programas que agradem a uns e outros. O mais recorrente é as duas raparigas irem ao cinema com os amigos e Maria João e Joaquim passearem com os dois pequenos no parque. Pela sua experiência mas também pelo olhar que lança à sua volta, Maria João não tem dúvidas: a família tradicional está mesmo a mudar. 'Eu, tal como muitas pessoas da minha geração, sou fruto de famílias tradicionais. Já a geração dos meus filhos não vai poder dizer a mesma coisa.' Governos tentam preservar conceito de família O conceito de família não vem definido na lei portuguesa, embora o direito a contraí-la esteja consagrado no artigo 36.º da Constituição. Além disso, a palavra 'família' é referida por diversas vezes nas leis portuguesas sobre adopção, maternidade, segurança social e educação. Há precisamente um ano - na vigência do Governo de Durão Barroso - foi aprovado o 'Plano Global para a Família/Cem Compromissos para uma Política de Família'. Traçado para o biénio 2004/2006, o articulado sustentava que a família constitui 'uma célula fundamental e um valor alienável da sociedade'. Dentre as medidas preconizadas, estava contemplada a promoção e divulgação de estudos e de diagnósticos 'que identifiquem as causas e analisem as consequências das mutações verificadas no seio das famílias e as suas repercussões na relação conjugal e parental'. Já o programa de Governo socialista faz o 'reconhecimento da diversidade das situações familiares, o que implica o estudo e acompanhamento das mudanças em curso na família e a definição de tipologias de intervenção adequadas'. Além disso, defende a 'consagração de políticas públicas determinadas por critérios de justiça social nomeadamente no que se refere à progressiva eliminação dos factores que afectam todas as famílias em situações de grande vulnerabilidade social - as pessoas/mulheres sós, sobretudo idosos, as famílias numerosas pobres, as famílias em situação de monoparentalidade, as famílias com pessoas desempregadas, as crianças em situação de risco, as famílias imigrantes e famílias com pessoas portadoras de deficiência'. In Portal da Educação |
Quantas vezes nós, mamãs, nos interrogamos se os nossos filhos estarão preparados para enfrentar as circunstâncias complexas da vida, e se adquiriram suficientes recursos para se defenderem em situações de mudança… “Poderá adaptar-se à nova escola?”, “Passará no exame?”, “Vencerá algum dia essa timidez?”, “Conseguirá construir um futuro sólido?”.
É claro que nós, como pais, não somos alheios ao modo como eles resolvem estas e outras situações, que sem dúvida se encontram directamente relacionadas com o modelo de educação de cada família, com as capacidades próprias de cada criança e com as características da abordagem pedagógica.
A verdade é que podemos intervir em pelo menos dois destes factores, e que da qualidade das nossas intervenções também dependerá a estruturação de personalidade que a criança irá desenvolver.
Encontro e comunicação
Comecemos então por analisar o modo como acompanhamos o desenvolvimento dos nossos filhos, não como uma maneira de descartar ou de criticar o modo como o fazemos, mas para valorizar o papel de pais e articular estratégias úteis no momento de enfrentar os problemas que se colocam diariamente na educação.
Porque a confiança e a segurança que uma criança tem em si própria é construída a partir de situações reais, conflitos e desafios que no decorrer de cada dia se vão apresentando. Mas, como podemos ajudá-los para que as suas respostas e decisões sejam as mais adequadas? Desde logo, nada conseguiremos se escolhermos por eles.
A modalidade “invasora” não parece ser a mais oportuna. Por outro lado, à medida que as crianças crescem, devem a pouco e pouco distanciar-se saudavelmente dos seus papás, para progressivamente integrarem-se e desenvolverem-se no mundo dos adultos.
E depois? O objectivo está em possibilitar que a auto-estima se instale progressivamente durante a primeira infância, ultrapassando os momentos de intercâmbios e de relacionamentos (que definitivamente são sinónimos de encontro e de comunicação).
O papel do adulto
Durante os primeiros anos de vida, instalam-se as matrizes do afecto e da aprendizagem, e para potenciar essas etapas de construção e consolidação da sua personalidade, é importante apoiar, suster e reforçar a criança no seu futuro quotidiano.
E como? Atendendo às suas necessidades com prontidão, e fazendo-a sentir que pode recorrer a um adulto de confiança face a uma situação angustiante, oferecendo-lhe o nosso apoio, o nosso colo, as palavras consoladoras, o peito perante a fome, a carícia perante o arranhão, o entusiasmo para enfrentar uma situação que lhe exija muito esforço físico ou mental, a mão no ombro… Estes são os elementos carinhosos que a ajudarão.
Se, como adultos, lhe falharmos nestes aspectos, semearemos a desconfiança, a insegurança e a desmotivação. Contribuiremos para instalar na sua mente sensações e percepções confusas que farão danos nas suas potencialidades e a deixarão em desvantagem face a outras.
O apoio familiar
Nos primeiros anos as crianças são mais maleáveis e mais permeáveis às mudanças. Por isso, a vulnerabilidade da sua estrutura psíquica leva-nos a reflectir sobre o mundo das crianças e no impacto que os nossos actos e palavras lhes podem promover. Como podem ser destruídas pelo abandono e pelo desamparo e como podem ser ajudadas e amorosamente apoiadas física e psiquicamente.
Por isso, pensemos na importância que tem uma palavra adequada num momento de desentendimento, ansiedade, perante situações novas ou de surpresa.
Uma criança que pode recorrer primeiro ao amparo e à segurança corporal dos seus pais ou da pessoa que cumpre a função materna, e mais tarde consegue tornar-se independente e a pouco e pouco utilizar os seus próprios recursos, é uma criança segura que depressa se tornará num adulto satisfeito e feliz.
Limites bem colocados
Favorecer o sentimento de segurança e confiança nela própria não quer dizer que se deva apoiar tudo o que faz, mesmo que esteja errado. Poder conhecer os seus limites e os alheios é benéfico para a construção da sua personalidade.
Lembre-se que uma criança tem uma grande necessidade de aprender, e assim como a protegemos dos possíveis riscos físicos, também devemos protegê-la da eventualidade de não encontrar determinadas barreiras e limitações que definam e que contenham as suas emoções, as suas angústias e ansiedades.
Podemos começar por lhes fortalecer desde muito pequenas a sensação de que são capazes de realizar muitas coisas que aparentemente não nos parecem importantes mas que para as crianças são valiosas. Por exemplo, quando identificamos o choro de um bebé adequadamente, sabemos que tem fome e damos-lhe o peito ou o biberão, ou então porque tem cólicas, movimentamos as suas pernitas ou fazemos-lhe uma massagem na barriguinha.
Quando lhe permitimos escolher entre dois objectos em vez de lhe impor um, ela fica a saber que também pode tomar decisões. Ou ao escutá-la e valorizar os seus trabalhos - desenhos, canções, as suas criações em barro ou plasticina, a sua ajuda para pôr a mesa ou arrumar os seus brinquedos - isso propicia a sua segurança e independência.
Lembre-se que é importante fazer os possíveis para que o seu pequenito se sinta activo, participante, reconhecido nas suas capacidades e por isso, seguro de si próprio. Tudo o que conseguirem, por mais pequeno que nos pareça, provocará neles a confiança e a alegria do êxito alcançado.
E embora às vezes nos impacientemos quando os nossos filhos demoram a concretizar uma acção quotidiana, é fundamental que respeitemos os seus ritmos.
Vestir a roupa sozinho e sem ajuda implica um enorme processo… Para facilitá-lo, é boa ideia preparar dois conjuntos, de maneira que ele possa optar, evitando o desanimador “O que é que vestiste?”, cada vez que a escolha nos pareça de “mau gosto”, e assim perder o mérito de tê-lo conseguido fazer sem a nossa ajuda.
É evidente que esta situação pode estender-se a outras circunstâncias e aprendizagens. Que a criança consiga sentir-se útil, considerada como um ser pensador e sensível, depende em parte do nosso papel como pais.
Estimulá-la e apoiá-la nos seus progressos são condições fundamentais para fortalecer os sentimentos de confiança e de segurança em si própria… uma herança essencial para a longo caminho da vida.
In Sapo Bebe